ESTUDANTES DO CURSO DE GEOGRAFIA-IETU REALIZAM TRABALHO DE CAMPO NO SUL E SUDESTE DO PARÁ
Legenda: Estudantes de Geografia em Trabalho de campo
Crédito: Alysson Sousa
Entre os dias 20 e 24 de maio de 2019 foi realizado trabalho de campo com os estudantes do primeiro semestre do Curso de Geografia do Instituto de Estudos do Trópico Úmido-Unifesspa. A atividade foi realizada nos municípios de Parauapebas e Marabá, inserida na componente curricular Trabalho de Campo e Geografia I. Sob a coordenação do Professor Dr. Rafael Benevides de Sousa e a colaboração dos Professores Dr. Flavio Gatti e Dra. Luciana Borges, o trabalho de campo teve como intuito: a compreensão da produção do espaço do sul e sudeste do Pará, tendo como foco os grandes projetos e os territórios e territorialidades resistentes – camponesas e indígenas – nessa parte da Amazônia.
Em campo os discentes vivenciaram aspectos e características da região, aliando os referenciais teóricos e métodos de pesquisa e ensino discutidos em sala de aula, como a produção, organização e transformação do espaço no Sul e Sudeste do Pará.
O roteiro de atividades foi organizado a partir das dinâmicas territoriais dessa região, como o processo de exploração mineral, a expansão urbana das cidades próximas aos grandes projetos e os impactos nos ecossistemas amazônicos. Também puderam compreender a territorialização camponesa via os assentamentos rurais, territórios indígenas em resistência e a questão indígena na cidade.
Através dos diferentes lugares visitados, os estudantes compreenderam a importância do trabalho de campo para o desenvolvimento da pesquisa na ciência geográfica, e o fortalecimento das práticas articulando ensino, pesquisa e extensão dentro do curso de Geografia.
A discente Ana Maria, que participou da atividade, comentou que: “a semana do trabalho de campo foi uma enxurrada de conhecimento, de novas expectativas, de novos conceitos de vida. Absorvi muito, principalmente no assentamento, um banho de cidadania e organização”.
Essa é uma das propostas do trabalho de campo, que para além da formação de bons professores-pesquisadores, os discentes tornem-se profissionais sensíveis, abertos ao conhecimento e comprometidos com a realidade em que estejam inseridos.
Legenda: Entrada da Floresta Nacional de Carajás
Crédito: Alex Silva
O primeiro e o segundo dia de atividades se deu no Mosaico da Unidade de Conservação de Carajás, em Parauapebas. Com o apoio logístico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), realizou-se a visita guiada pelo técnico ambiental Alysson de Sousa e as colaboradoras Gisela Campos, Iris Florentino e Luana Farias. Nesse primeiro momento, os estudantes tiveram a oportunidade de observar traços da floresta de Carajás, bem como as cavidades naturais subterrâneas, geoambientes, recursos hídricos, área e exploração mineral, áreas de proteção e conservação e a cidade planejada. A partir desses espaços os discentes conheceram uma amostra do ecossistema amazônico como a floresta ombrófila, áreas de savanas, campos ferruginosos, formações rochosas, fauna e flora endêmica e a importância das cavernas para o equilíbrio ambiental.
Sobre essa visita ao Mosaico de Unidade de Conservação de Carajás, o monitor da disciplina Trabalho de Campo e Geografia I, o discente Renato Almeida, relata que: “a saída a campo sempre nos traz novidades, nos desperta curiosidades das que estamos habituados. Particularmente, as trilhas dentro da Floresta Nacional de Carajás me marcaram, pois foi o primeiro contato que tive com cachoeiras, com uma caverna e com os campos ferruginosos”.
Legenda: Campos ferruginosos
Credito: Alysson Sousa
Além do debate sobre o ecossistema da Floresta Nacional de Carajás, também foi observado em campo a exploração mineral realizada pela empresa Vale e os desdobramentos que esse setor extrativista tem gerado na Amazônia, ocasionando impacto social e ambiental para a população do entorno desse empreendimento.
Após as tragédias de Mariana e Brumadinho no estado Minas Gerais, o setor mineral se tornou o epicentro das discussões ambientais no Brasil, principalmente sobre os dejetos gerados no processo de extração.
Legenda: Visita a Mina de extração de ferro da Vale.
Credito: Rafael Sousa
No terceiro dia de trabalho de campo, ainda em Parauapebas, realizou-se uma expedição pelo Assentamento Rural Palmares II, uma das ocupações camponesas via reforma agrária mais antiga do Pará. Nessa comunidade fomos recebidos pelo poeta e militante Charles Trocate que apresentou os espaços de vivência dos camponeses, como as escolas, posto de saúde, espaço de convivência comunitária e nos apresentou as lideranças e algumas pessoas importantes para a história do assentamento.
Legenda: Roda de conversa no Assentamento Palmares II
Crédito: Rafael Sousa
Em roda de conversa, os estudantes levantaram questões acerca da problemática agrária, do processo de luta e resistência camponesa no referido Assentamento e de forma mais abrangente no sul e sudeste do Pará.
Essa aproximação e vivência no Assentamento foi um passo importante para a compreensão do processo de produção do espaço agrário do sul e sudeste do Pará através da prática da pesquisa, aproximando as percepções acadêmicas entre teoria e empiria nos estudos geográficos. Para o Professor Dr. Flavio Gatti, “a aula de campo constitui um importante elemento para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que o estudante realiza análises sobre determinado espaço geográfico através da vivência em campo, confrontando a teoria e o que se vivencia na prática, possibilitando a espacialização fora da sala de aula e compreendendo os conceitos fundamentais da Geografia”.
Desse modo, destaca-se a importante do trabalho de campo, enquanto um método de investigação que se dará na aproximação entre empiria e teoria para a compreensão do espaço geográfico.
Na parte da tarde, na cidade de Parauapebas, visitamos a Organização Mulheres de Barro, que desenvolvem um trabalho na confecção de cerâmicas com desenhos encontrados em material arqueológicos das populações indígenas de Carajás.
Legenda: Organização Mulheres de Barro
Crédito: Rafael Sousa
No quarto dia de trabalho de campo, já em Marabá, fomos recebidos pelos Akrãtikatêjê, população indígena que faz parte dos 16 povos integrados às terras Gaviões que mantiveram traços de seus costumes, tradições e linguagem. Na ocasião, os discentes compreenderam o modo de vida e a cultura indígena na contemporaneidade, como tem se dado o sistema de ensino-aprendizagem na aldeia, e o processo produtivo como a coleta de castanha e a piscicultura.
Legenda: Aldeia dosAkrãtikatêjê
Credito: Rafael Sousa
A visita aos Akrãtikatêjê foi fundamental para a quebra dos paradigmas cristalizados sobre a população indígena no Brasil, desmistificando os preconceitos, ampliando e aprimorando as percepções sobre as populações da floresta. O que para nível de Amazônia é imprescindível para não correr-se ao risco de interpretações equivocadas e coloniais sobre a região.
Ainda no mesmo dia, na parte da tarde, o Professor Dr. Bruno Malheiro nos recebeu na orla da Velha Marabá, onde contextualizou o surgimento da cidade ligada aos rios Tocantins-Araguaia, aos indígenas e a extração do caucho e da Castanha-do-Pará. Na mesma ocasião visitamos o bairro Cabelo Seco na orla do Rio Itacaiúnas, a oficina do Sr. Félix que complementou a contextualização de Marabá e a ONG Rios de Encontro, onde finalizamos o dia entre prosa, poesia e música.
Legenda: Orla de Marabá
Credito: Rafael Sousa
Esses momentos vivenciados durante o trabalho de campo possibilitou aos estudantes uma compreensão dos arranjos que compõem a construção e transformação do espaço geográfico, tendo nas relações humanas as ações que competem para as investigações cientificas do geógrafo e do professor de geografia. Essa perspectiva corrobora com o depoimento da Professora Dra. Luciana Borges, “A realização de atividades curriculares voltadas para o trabalho de campo em um curso de Geografia é de fundamental importância no percurso formativo do discente. A componente curricular de Trabalho de Campo e Geografia I proporcionou aos estudantes do primeiro período da turma 2019 do curso de Licenciatura em Geografia do IETU/ Unifesspa o contato com as diversidades socioterritoriais e ambientais do sul e sudeste do Pará, percorrendo desde a serra de Carajás, na transição entre exploração mineral e conservação da natureza, passando por assentamentos, espaços de luta pela terra e organização de movimentos sociais do campo, aldeias indígenas e as formas de mobilização dos povos da floresta, além de terem sido abordadas também questões sobre a cidade e suas diversas manifestações espaço-culturais. Certamente, uma experiência única na formação de professores-pesquisadores da Geografia”.
No último de dia de trabalho de campo, visitamos a Casa do Índio em Marabá, na companhia da professora Dra. Tatiane Costa que recentemente defendeu a tese (Etni)cidade indígena na Amazônia: por uma geografia do contato interétnico, pelo Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense. Nessa visita, os discentes observaram a existência de índios na cidade, compreendendo os desafios que os povos indígenas enfrentam para manter a memória de suas ancestralidades, sua cultura e as peculiaridades do seu modo de vida. A casa do índio em Marabá é um ponto de apoio para uma parcela da população indígena, principalmente os Xikrins, que vão à cidade para terem acesso a serviços como saúde e educação.
Legenda: Casa do índio em Marabá/PA
Credito: Rafael Sousa
A realização de trabalho de campo como a que foi desenvolvida com os estudantes do primeiro semestre do curso de geografia, é uma ferramenta fundamental para a formação do professor-pesquisador em Geografia, sendo por meio desse recurso metodológico que o discente tem contato com o que é estudado em sala de aula.
Legenda: Campos ferruginosos
Crédito: Rafael Sousa
O trabalho de campo serviu para despertar o interesse dos discentes em compreender a Geografia do Sul e Sudeste do Pará, (re)conhecendo os sujeitos sociais e os agentes capitalistas que moldam a paisagem e constroem territórios e territorialidades específicas nesta parte da Amazônia.
A construção do roteiro de atividades teve como princípio pensar a geografia enquanto unidade, compreendendo os fenômenos físicos e humanos articulados para a produção, organização e transformação do espaço geográfico. Desse modo, o que foi observado durante os cinco dias de trabalho de campo, será vislumbrado em componentes curriculares ao longo de todo o curso, possibilitando argumentos empíricos que possam ser explicados à luz dos pressupostos teóricos.
Legenda: Lagoas da Unidade de Conservação de Carajás
Credito: Alysson Sousa
Pensamos que o mundo ainda é o mais importante laboratório do geógrafo, por isso, o trabalho de campo se destaca como uma ferramenta fundamental para a formação do professor-pesquisador em Geografia.
Texto: Prof. Dr. Rafael Benevides de Sousa
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